Pombos, morte e apatia

Como em um filme de suspense, aqueles pombos se juntaram em torno de uma moradora de rua que andava na estação. Suas asas espalhavam o descaso no qual aquela velha vivia e, atraídos pelas migalhas de lixo em sua roupa, os pombos “gritavam” assustadoramente. Dali a pouco, algo se tornou cruel. A senhora desmoronou-se a chorar e gritar, lançando pragas aos pássaros que a assaltavam ferozmente. Inutilmente o fez.

A tarde era cinzenta quando tudo ocorreu e ninguém poderia prever o que aconteceria. A morte daquela senhora assustou todos os que ali passavam que, sem duvida, não fariam mal aos pombos e sequer imaginavam que sua apatia poderia ser mais fatal do que a ferocidade daquelas aves. O mais interessante foi observar como a enxurrada de voadores surgiu afugentando os desavisados. Eles encheram o telhado, as grades e todas as estruturas da estação até o momento em que se lançaram sobre a mulher.

Eis que um homem correu para salvar Virgínia, este era o nome dela. Parecia que ele a conhecia, pois gritava seu nome e sacudia sua bengala para espantar os pombos. Suas ações foram suficientes para atiçar ainda mais os animais que pareciam dominados por algum desejo insano (humano?) de roubar e destruir aquela infeliz pessoa. O homem se retirou quando percebeu que suas feridas não valiam como preço para salvar aquela mulher.

Não havia mais o que fazer, os guardas chegaram e procuraram socorrer a velha. Os pombos observavam do telhado a remoção do corpo para um carro esquisito. Os humanos também observavam e se posicionavam de forma a fugir da possibilidade de serem atingidos pelas fezes dos animais. Quando o carro saiu, os pombos gritaram e começaram a voar descontroladamente no lugar, até que se pousaram no carro e ali ficaram, junto daquela senhora. Alguns seguiram o carro voando, outros simplesmente pousaram sobre o veiculo, lento e desatento, enquanto os outros humanos normalizavam suas vidas.

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