Prosopopeia das marcas

Quando você olhar para o espelho, vai perceber que existe uma pessoa na sua frente. Essa pessoa tem uma altura específica, um peso, cor nos olhos, no cabelo e até dobrinhas únicas na testa. Mas não para por ai, essa pessoa tem sentimentos, experiências, vontades e anseios, características de uma vivência longa ou nem tanto. Claro, não podia faltar o temperamento, aquilo que te faz ser amado ou odiado por alguém. Parabéns, você é um ser humano, dotado de condições e características específicas que o fazem ser o que é, como é, e com a capacidade de fazer as pessoas te amarem ou não.

O ser humano precisa se relacionar. Não é de hoje que sabemos que a comunicação é uma necessidade e não uma opção. Ela é a forma completa de interação, seja interpessoal, intrapessoal, em grupo ou em massa. Atemo-nos à interpessoal, que se da entre um emissor e um receptor, constituída de elementos específicos como a mensagem, o canal, o contexto, o código e, claro, o retorno. A expressão deste processo se da pela linguagem, que também se divide em verbal e não verbal. A primeira tem como protagonista o verbo, os vocábulos, sejam escritos ou falados. A segunda, não possui padronização clara, é constituída das linguagens gestuais, dos olhares e dos caprichos do comportamento humano.

Para completar o cenário de nossa discussão, existe ainda a orientação específica dos processos comunicacionais para o mundo corporativo. Neste caso, o emissor é uma instituição, uma empresa, um CNPJ. Esta organização defende interesses diante do seu público, o receptor da mensagem, que geralmente é: “compre!”. O canal é diversificado, afinal de contas o emissor também é e, sendo assim, precisa usar o melhor meio de contato com cada perfil de público.

O interessante é entender que a comunicação estruturada é uma das formas de definir se um ser é ou não humano. Explico. A nossa forma de linguagem estruturada, seja ela falada, escrita ou em formas não verbais como a linguagem de sinais e o braile, nos definem como humanos. A partir daí, a necessidade de se “humanizar” o emissor corporativo acima mencionado foi imprescindível, pois que tipo de crédito eu darei a um ser inanimado falando comigo? Aqui surge o que chamo de prosopopeia das marcas, pois essa figura de linguagem diz tudo sobre o trabalho realizado pelos profissionais de comunicação para empresas do mundo todo.

A humanização deste emissor é construída por meio de técnicas diversas. Inúmeros atributos e virtudes humanas, como beleza, poder, status, coragem, força, felicidade, responsabilidade, inovação etc. são agregados a uma marca, que passa a ser uma “pessoa”. Já ouviu falar em valores? Como um monte de prédios e cadeiras pode ter respeito? Ser integro? Quando você reclama de uma empresa você a chama, entre outras coisas, de desorganizada não? Já disse que adora alguma delas? Já parou pra pensar que o Banco Real era um jovem, universitário, de camisa verde, preocupado com o futuro do planeta e que foi morto por um espanhol de botas pontudas e um revólver de faroeste (e, diga-se de passagem, mentiroso)?

Hoje, a comunicação se tornou um fator de valor incalculável nas empresas. O resultado disso tudo está na transformação da marca em um dos ativos mais valiosos para o negócio. Veja bem, a marca Apple (sem contar o patrimônio da empresa) vale mais de 150 bilhões de dólares. E a marca não é apenas o nome, mas todas as características humanas que foram agregadas no decorrer dos anos e de um trabalho minucioso de gestão. É por este motivo que você gosta tanto daquela marca, e, sem motivos, não gosta da outra. Faça um exercício, se o Google fosse uma pessoa, como seria? Você pode descrevê-la?

4 Respostas para “Prosopopeia das marcas

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  4. Excelentes textos, novo visual, parabéns meu amigo. Tenho orgulho de você.

    Abs,

    do amigo

    Maurício Klai

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