Do Sangue à Alma – 1° capítulo

Capítulo 1: Recuar

“Respiro fundo e encontro no horizonte o meu destino, recuo.”

Dessa vez, quem ouvia tiros era ela. Com as mãos raladas no asfalto, Virgínia se escondia dos pedaços de vidro que caiam ao seu lado e tentava não ser alvo daquele confronto. A rua estava dominada por carros abandonados por conta da situação, os fugitivos se escondiam como podiam. Eduardo corria atrás das arvores em busca de abrigo quando viu Virgínia se encolhendo. Ele se arrastou para ajuda-la e com a mão direita a levou para trás de uma mureta. Ela resistiu, pois o medo travava seus músculos, mas com a visibilidade de que tudo dependia daquela decisão, foi. Escondida, Virgínia tentava se lembrar de como tudo aconteceu, mas não conseguia e se apertava nos braços de Eduardo.

De grande herói, Eduardo passa a vítima quando um dos tiros o atinge e o faz se retorcer de dor. Virgínia não sabia o que fazer, pois nunca vira tanto sangue, sua mão, rosto, corpo estavam ensanguentados e aquele rapaz ardia de dor ao seu lado. Um policial foi ajuda-los logo após o final aparente do embate, eles correram pela calçada olhando para o chão, a cabeça de Virgínia latejava e ela segurava firme a mão suada de Eduardo, agora, sofrendo. O responsável pela operação que prendera os assaltantes daquele banco não sabia que Virgínia era uma alta executiva da instituição, nem que Eduardo a havia ajudado. Muito se correu enquanto o ferido subia na maca e era levado ao hospital, a ambulância gritou e rasgou as ruas. Virgínia o acompanhou.

No hospital, destinos diferentes, Virgínia tratou as pequenas feridas, tomou remédios para a dor e fez alguns exames para checar cabeça e costelas. Já Eduardo, com a bala alojada no peito, perdia muito sangue e foi internado para uma cirurgia que retiraria o projetil. Tomada por um sentimento de culpa e remorso, Virgínia sentia-se obrigada a saber do estado de Eduardo e como seria sua evolução, então procurou o médico para se informar. Soube que ele estava numa situação muito ruim e que seria necessário muito sangue para a sua recuperação, desafio que ela prontamente aceitou e marcou a coleta para a próxima manhã.

No outro dia, ainda no hospital, Virgínia acordou bem melhor, seu corpo não doía como outrora. A janela mostrava um céu azul, alegre e ensolarado, diferente do que se passava em seu coração. Apesar de ter uma vida bem sucedida e repleta de conquistas, Virgínia sempre foi muito insegura e temia o inesperado. Ela desceu para a sala de doação e cumpriu o que achava ser sua obrigação, afinal de contas, Eduardo havia salvado sua vida e agora, por este motivo, estava muito mal. Depois disso, Virgínia foi até a unidade em que Eduardo estava internado e olhou para ele. Sentiu um forte aperto em seu coração e não soube lidar com aquilo, acabou chorando. Subiu para retirar suas coisas, pois a previsão era a de que ela fosse para sua casa a tarde, mas um desmaio inesperado a impediu. Algo estava errado.

Leia o segundo capítulo aqui.

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